Oi amiga, tá aí?
Porque amizades são importantes na vida adulta e um manual básico para ser um amigo decente.
Como uma adulta recém-chegada à casa dos 30 anos — nem tão recém assim, confesso — posso falar com propriedade que o tema "amizade" é algo muito controverso para a nossa faixa etária.
Somos divididos, basicamente, em quatro tipos de pessoas:
Os adultos cheios de amigos — a maioria, amigos de infância que conseguiram manter o contato apesar do tempo. Ou grupos grandes de amigos (e amigos dos amigos) que acabaram se tornando uma pequena sociedade de pessoas com hábitos e opiniões relativamente parecidos — ouso dizer que tendem a ser formados por pessoas de um mesmo recorte socioeconômico, inclusive.
Os adultos do tipo: poucos, mas bons. Um ou dois amigos muito fiéis, com quem se pode contar em qualquer momento e para qualquer coisa. Geralmente, essas pessoas têm facilidade em criar conexão, mas aprofundá-las já é algo mais complexo e difícil.
Os adultos sem amigos. Muitas vezes, são aquelas pessoas que estão tão focadas no próprio círculo familiar (cônjuge, filhos, pais) ou no trabalho/estudo que acabam perdendo contato com outras pessoas pela falta de tempo para a manutenção da amizade.
E, por fim, os adultos do grupo 4: adultos desesperados para fazer amizades. São aqueles que, por qualquer motivo que seja, se deram conta de que é impossível viver mentalmente são sem cultivar pelo menos uma amizade fora do contexto família-trabalho e que sentem o anseio constante de desenvolver vínculos com outros adultos da mesma faixa etária.
Se tu não se encaixa em nenhum desses grupos, comenta qual o grupo de adulto que você faz parte.
O fato é o seguinte: não importa em qual grupo você esteja, é muito difícil que exista uma pessoa que consiga atravessar a vida adulta sem ter pelo menos um bom amigo para contar.
Nós, mulheres millennials, fomos educadas para sermos viciadas no amor.
Desde muito novinhas, fomos apresentadas a todos os ideais inalcançáveis de relações amorosas e parceiros românticos. Fomos instruídas a perseguir o amor romântico incansavelmente e treinadas para que, ao primeiro sinal de que o havíamos encontrado, agarrá-lo com unhas e dentes, para que ele não fosse roubado de nós.
O objetivo é claro: moldar hábitos e personalidade para encontrar o amor da nossa vida, aquela pessoa perfeita com quem iremos nos casar e viver felizes para sempre.
Spoiler alert: "para sempre" é muito tempo.
Mas essa dinâmica de vida não é apenas cansativa — ela é insustentável no longo prazo.
Afinal, ao ter como objetivo primordial encontrar o par perfeito, perdemos o foco de todas as outras coisas importantes da nossa vida. Focamos energia e tempo demais buscando um ideal inalcançável e, na maioria das vezes, não nos permitimos encontrar satisfação e felicidade real em outras áreas — ou pessoas — da nossa vida.
Foi só depois que eu passei dos “vinte e poucos” e entrei nos “vinte e muitos” que entendi, de fato, a importância das minhas amizades.
Eu fui aquela criança introvertida e envergonhada, que dependia dos adultos para qualquer tipo de interação social. Fazer amizades nunca foi algo fácil para mim. Mas, apesar disso, quando eu encontrava alguém com quem me identificava, a tendência era que essa amizade se fortalecesse e durasse muitos anos.
E, de fato, foi assim que cheguei aos 16 anos: com apenas uma amiga.
E, mesmo que isso pareça meio solitário, posso garantir que sentia que essa amizade era tudo de que eu precisava. Afinal, todo o resto do meu tempo era dividido entre estudar, treinar, ficar magra, parecer bonita, inteligente, saudável, engraçada, enigmática, simpática (mas nem tanto), atraente, sensual (mas recatada) — afinal, para arrumar um namorado sério, eu não podia parecer promíscua... Então, no fim do dia, não sobrava muito tempo para administrar tantas amizades.
Aos 18, saí da casa dos meus pais e, pela primeira vez, percebi o quanto necessitava de outras pessoas. A amiga da infância ficou para trás, junto com tudo o que me era confortável e familiar. E foi graças às amizades que me permiti criar naquela época que consegui me adaptar à minha nova vida. Aprendi a cozinhar, lavar roupa, me locomover de transporte público pela cidade nova. Consegui superar o Dia das Mães longe da minha mãe, o meu aniversário longe da família, os aniversários de todos que eram importantes para mim, o medo de estar sozinha em outro estado... Essas amizades me ensinaram a viver.
Em paralelo, foi nessa mesma época que conheci o primeiro amor da minha vida e, finalmente, parecia que todas as pecinhas tinham se encaixado.
Aos 20, descobri que o amor da minha vida não era exatamente o amor da minha vida. Não foi fácil colocar um fim naquela relação, mas foi graças às amizades que me rodeavam — aquelas que criei e aprendi a valorizar depois de sair de casa — que consegui seguir em frente.
Mas, aos 22, eu me perdi.
Permiti que outra pessoa me roubasse de mim. Esqueci quem eu era, de onde tinha vindo e para onde queria ir. Foi uma fase que durou mais tempo do que eu gostaria. Demorei para perceber que havia uma lição a ser aprendida ali. Mas tive mulheres incríveis ao meu lado, que seguraram minha mão e me resgataram daquela profundeza.
Aos 24, achei que tivesse finalmente entendido a lição que precisava ser aprendida: sou bem melhor sozinha (parafraseando Luísa Sonza). O amor romântico é uma ilusão, e é melhor estar só do que mal acompanhada.
De fato, até acho que essa era uma conclusão válida para o nível de maturidade que eu tinha naquela época. Mas, essa, ainda não era a resposta completa.
Finalmente, aos 31, consigo contemplar a sorte que é perceber que a vida não é feita de 8 ou 80. Não é solidão ou liberdade. Tudo ou nada. Entendi que não existe apenas um amor da minha vida e que meu amor não é exclusivamente romântico. Existe um espaço disponível dentro de mim para todas as coisas importantes.
Percebi que encontrar um parceiro romântico ideal não ocupa o lugar que deve ser preenchido pelos meus amigos. Nem o trabalho preenche o lugar do afeto familiar, ou o prazer preenche o lugar da espiritualidade... Cada um deles tem seu espaço. Sua prateleira. E também existem aqueles pequenos espaços vazios que nunca serão preenchidos por nada (mas isso é papo para uma outra publicação).

Qual a verdadeira função da amizade?
Com a maturidade, entendi que existem funções que apenas as amizades são capazes de exercer. E, para mim, faz sentido olhar para as amizades e saber que elas contemplam coisas como:
Descentralizar a ideia do amor romântico: basicamente tudo que eu falei no trecho acima. Cultivar amizades verdadeiras é tirar o foco da ideia de que só é possível amar (e se sentir amada) em uma relação amorosa.
Resgate da autoestima: aqui, eu não estou falando apenas da autoestima atrelada à aparência — apesar de isso ser um fator que muitas vezes se desenvolve dentro das relações de amizade —, mas, principalmente, do apoio emocional e do resgate da confiança que todos nós, vez ou outra, precisamos. Um job que não deu certo, aquele ghosting do contatinho que a gente pensou que ia virar um lance, crise da impostora, briga conjugal, medo de fazer uma grande mudança... sempre tem aquela voz amiga que nos encoraja a acessar e resgatar nossa força interior.
Curam feridas que não causaram: eu amo essa definição de amizade. Depois de adultos, percebemos que é cada vez mais difícil sermos vulneráveis, ao mesmo tempo em que sentimos tudo de maneira mais profunda. As alegrias são enormes, mas as decepções são ainda mais intensas — e geralmente fazem uma bagunça danada na nossa vida. É importantíssimo saber que, apesar de tudo estar desmoronando, existe um ombro amigo e alguém disposto a ouvir nossas angústias e nos resgatar quando nos perdemos pelo caminho.
Rede de apoio: ser adulto, nos dias de hoje, é desesperador e cansativo. É tanta conta para pagar, tá tudo tão caro, nossos sonhos parecem cada vez mais distantes e o senso de comunidade é praticamente inexistente. Por isso, é precioso quando encontramos em nossos amigos uma rede de apoio funcional, uma troca honesta e solidária. Aquela pessoa que pode alimentar o gato durante o fim de semana em que você precisa viajar a trabalho; a amiga que passa para deixar uma sopa quentinha e fazer companhia quando você está doente; alguém que dá uma geral na casa quando o bebê é recém-nascido e você não tem forças nem para tomar banho no fim do dia. Não é porque somos adultos que não precisamos de apoio e ajuda — tá todo mundo perdido nesse negócio de “vida”.
Fazer amizades na vida adulta é sorte?
O conceito de “fazer amigos” muitas vezes está ligado àquela ideia de crianças brincando no parquinho do bairro e se apresentando a um completo desconhecido com a típica frase: “Oi, quer ser minha amiga?”.
Era tão mais fácil nessa época, né?!
Depois de adulto, tudo se torna muito mais complexo. A gente morre de medo de ser vulnerável com pessoas em quem não confiamos, está sempre com pressa, correndo para o próximo compromisso, tentando dar conta de tudo, fazer mais dinheiro, ser mais bem instruído e, com isso, nos iludimos com a ideia de que, em algum momento, vamos ter mais tempo livre para dedicar às pessoas que são importantes para nós.
Mas a verdade é que o tempo é limitado — nunca vai existir “mais tempo” — e, ao renunciarmos às nossas relações por coisas “mais importantes”, corremos o risco de acabarmos completamente solitários.
Em 2023, uma das minhas resoluções de ano-novo era: fazer novas amizades. Eu não estou zoando! É cafona e meio triste, né?! Mas a verdade é que eu decidi que, naquele ano, queria aprofundar minhas relações — e transformei meu desejo em objetivo. Não sei se foi destino, presente de Deus ou o fato de que tudo aquilo em que focamos se desenvolve, mas entrei em 2024 com um novo grupo de amigas que se tornaram minha comunidade durante os meses em que vivi na Hungria. (Se você perdeu esse rolê, sugiro que leia esse post AQUI.)
Então, eu acredito que não: fazer amizades na vida adulta não é questão de sorte.
É construção, disponibilidade e dedicação. É uma relação complexa, sim — mas é parte essencial para sobreviver aos altos e baixos da vida.
Observação: eu sou, e sempre serei, team qualidade antes de quantidade. Não precisamos ter milhares de melhores amigos, mas é importante conservar os bons amigos o máximo possível.

Como manter uma amizade e ser um bom amigo?
Sabendo que, para ter amizades verdadeiras na vida adulta, é preciso dedicação, existe uma pergunta que é inevitável de ser feita: tá, mas como eu faço isso?
E, na minha humilde opinião, existem algumas formas importantes de demonstrar para seus amigos que você se importa com eles.
Detalhe: demonstrar é diferente de falar. Falar que nos importamos com alguém é fácil — o difícil mesmo é fazer o outro se sentir importante e querido por nós.
Não julgamento
Amizades devem ser lugares sagrados, onde podemos ser nós mesmos sem medo de sermos julgados. Isso não significa que você tenha que passar a mão na cabeça e concordar com todas as coisas imbecis que seu amigo fizer, mas sim deixá-lo confortável para ser um total idiota perto de você, sabendo que a crítica que escutará será construtiva e respeitosa.
Sem cobrança
Não tem nada pior do que aquele amigo exigente que cobra atenção sem parar. Depois de adulto, precisamos entender que cada um tem seu cronograma, obrigações, compromissos inadiáveis e um cansaço crônico que, muitas vezes, limita nossas interações interpessoais — até mesmo aquelas que mais estimamos. Por favor, não seja aquele tipo de amigo que exige que tudo seja do seu jeito.
Se seu amigo não puder desmarcar um compromisso de trabalho para ir ao seu chá de casa nova, aceite a proposta de fazer um jantar na semana seguinte só vocês dois, no seu novo apê. As demandas do dia a dia limitam nossas interações, mas não há motivo para dificultar ainda mais por uma questão de capricho.
Respeitar as mudanças
Acho interessante colocar esse ponto logo na sequência porque, para mim, respeitar os diferentes momentos de vida dos nossos amigos é pautar a relação numa dinâmica livre de cobranças.
É impossível sermos as mesmas pessoas por muito tempo. Às vezes, uma amizade que começou durante uma fase da vida em que ambas eram solteiras, de repente, se converte numa amizade em que ambas estão casadas. Ou uma das duas se torna mãe. Ou a outra faz um intercâmbio e a única forma de se comunicarem é por telefone. Ou aquela amiga com quem você amava sair para comer as comidas mais calóricas do mundo e beber cerveja, do dia para a noite se torna maratonista e viciada em dieta.
Isso não significa, necessariamente, que a amizade precise acabar. Talvez só seja a hora de reavaliar essa relação e ajustar seu lugar na prateleira das amizades (ler o último tópico do post para entender o conceito de prateleira da amizade).
Cumplicidade e reciprocidade
Por fim, acho que o principal: ser cúmplice do seu amigo, parceiro, uma pessoa em quem o outro possa confiar e se apoiar em todos os momentos (não apenas nos bons).
E, na mesma proporção em que seu amigo se dedica a você, dedique-se a ele. Nada mata uma relação de forma mais dolorosa e arrastada do que a falta de reciprocidade. Não espere que suas relações sejam uma via de mão única, onde você só recebe.
Extra: sem competição. Essa eu vou deixar que você mesma pense a respeito. ;)
Quando eu pensei em escrever este post, fui atrás de alguns podcasts que falassem sobre o tema, para me ajudar a construir minha narrativa. Acabei encontrando o episódio #239 do Bom dia, Obvious, com a Lili Prata. É um episódio bem legal, e deixo aqui como uma indicação, complemento às ideias e fonte de pesquisa para o post.
Em especial, quero destacar que a Lili Prata fala, nesse episódio, sobre as amizades verdadeiras serem relações pautadas na vulnerabilidade, na transparência e no compartilhar das nossas profundezas.
É um lugar onde não tememos ser julgadas. É um lugar para onde fugimos quando tudo parece errado — fora ou dentro de nós.
As amizades têm esse poder quase sobrenatural de mudar a perspectiva que temos sobre a vida: elas restauram e renovam nossa energia; também intensificam e ampliam nossa felicidade.
Creio que nós, millennials, somos uma geração que perdeu o senso de vida em comunidade. Diferente do que nossos pais tinham no começo da vida adulta deles, nós estamos quase sempre vivendo rotinas muito aceleradas e cada vez mais solitárias. As amizades são uma forma de resgatar essa sensação de pertencimento, de cuidado coletivo.
Talvez esse seja um legado bonito a ser deixado para as próximas gerações: a importância da amizade como estrutura de vida.
P.S.: O que é o conceito de “prateleira da amizade”?
É uma metáfora para ajudar a entender e organizar emocionalmente os diferentes tipos de amizade que temos na vida. A ideia central é que nem toda amizade ocupa o mesmo espaço, e tudo bem! Algumas pessoas são para a prateleira de cima (aquela especial, de confiança total), outras são da prateleira do meio (boas companhias, mas com limites), e outras ficam numa prateleira mais baixa ou até na “prateleira do desapego”.
Um beijo e até mais!
Adri <3
Adorei o texto é super me identifiquei. Não tenho amigas de longa data e muito em decorrência de um relacionamento de quase 10 anos que era o centro do mundo pra mim, quando acabou, me vi completamente sozinha. Hoje, sigo solteira, mas tenho uma rede de amizade que construí muito bacana e que me salvou em diversos momentos, em especial uma melhor amiga que posso dizer ser um dos grandes amores da minha vida.
Esse título foi tudoooo pra mim 🩷
Gosto muito do tema amor, em especial o amor da amizade me chama muito a atenção! É um lugar na minha vida em que coloco muita energia e onde venho construindo relacionamentos mais longos ✨
Amei as dicas! Vou mandar pra todas as minhas amigas, menos uma hehehe
Arrasou como sempre! Te amo 💕